Foi com o cair do dia que nos apercebemos que tudo estava a chegar ao fim. Que era hora de partir, de deixar tudo para trás e regressar. Pensar que seria a ultima vez que faríamos aquele caminho, ou que veríamos aquela pessoa tornou-nos nostálgicas.
Estes últimos dias foram como já dissemos no post anterior, uma ânsia de tentar fazer e viver tudo intensamente. As dores nas costas passaram ao fim de dois dias, mas com muito repouso e sem surfar.
Foi com cautela, que sexta-feira fomos para a praia Mole. Nada de anormal, apenas um simpático peixe com cara de cão que apanhava banhos de sol na areia. Todo o seu corpo era revestido com imensos picos bastante afiados que ao tocar num pé alheio, causava com certeza graves consequências! Além desta companhia fomos surpreendidas pela Patrícia, minha amiga do Porto e as amigas que acabavam de chegar do Rio de Janeiro. Uma surpresa que originou muita conversa e combinações para os próximos dias.
Depois do dia de praia bem aproveitado, viemos para casa e fomos jantar ao Shopping Iguatemi com a Nádia. Nada de compras mas uma amizade inesperada. Ao virmos embora, não resistimos a tirar a típica fotografia com o Papai-Noel. Até aqui tudo bem. Contudo, esse senhor de barbas verdadeiras era uma autêntica réplica do mesmo e até era casado com a Mamãe-Noel mais querida de sempre! Receberam-nos com abraços e beijinhos, tinham família em Bragança, e enquanto falavam não largavam as nossas mãos! Muito carinhosos, criou-se rapidamente uma grande empatia e até nos queriam convidar para irmos jantar a casa deles! Não deu porque estavam muito ocupados por nestes dias. Foi muito estranho pois parecia que já conhecia aqueles senhores de algum lugar!
Sábado.
Praia Mole novamente. Embora estivesse sol e muito calor, saímos mais cedo da praia para ir visitar a igreja da Nossa Senhora da Conceição. Ficava no cimo do nosso morro e a subida era quase a pique. Quando lá chegamos deparamo-nos com um casamento que estava quase a terminar. Vestidas nada próprias para entrar num recinto religioso, aguardamos receosas cá fora. Foi então que uma voz nos disse: "Deus não olha à roupa mas sim ao coração".
O nome dela era Verónica e dava a hóstia aos doentes nos hospitais. Tinha uma fé inabalável e mostrava-se muito preocupada com os problemas do seu país. Contou-nos as ultimas tragédias que tinham acontecido e falou sobre a onda de violência que se faz sentir. Não entendia o porquê de tudo isto, só dizia que faltava Deus no coração das pessoas. Talvez falte mesmo. De facto tudo aquilo nos deixou a pensar na sorte que temos em viver num país seguro...pelo menos, mais seguro. Entramos na Igreja depois da saída dos noivos e rezamos.
Alguns afazeres e era já hora de jantar. Jantamos em casa da Nádia e da Cláudia, nossas fiés companheiras de balada, e fomos para o Confraria das artes. Noite chocolate, ou seja, hip-hop e muita gente. Fila para entrar, fila para pagar, pouco espaço para dançar, mas foi muito divertido. Estava lá "toda a gente", como costumamos dizer, e foi a noite em que mais ouvimos "olha as portuguesas!", incrível.
Contudo, valeu a pena cada minuto. A festa estava inacreditável. Muita gente, bom ambiente e boa musica. Encontramos lá a patrícia, as amigas e os amigos e por lá ficamos até nos expulsarem. Quando isso aconteceu, estavamos todos esfomeados, pois não tinhamos comido nada o resto da tarde e da noite. Fomos ao clássico rodízio de pizza e a seguir, satisfeitos e muito cansados fomos dormir. Houve quem pensasse ainda ir ao Confraria...mas ficou só nas intenções.
Por agora encontramo-nos a fazer as malas, e a tentar organizar a confusão que geramos. Temos sérias duvidas que tudo caiba na mala. Convém salientar que para além de um malão cada uma, temos uma prancha, um violão, uma mochila de computador, dois quadros, umas botas, uma mala de sapatos e as carteiras. Vai ser com certeza uma viagem atribulada. O tio Nuno vai-nos levar por volta das 9h e chegamos ao Rio de Janeiro ao 12H30. A essa hora temos o Felipe que já estará por certo, à nossa espera. Temos 7 horas para conhecer as principais atracções da cidade. Logo veremos para o que é que dá.
É com pena que escrevemos este "quase" ultimo post. Vamos ter saudades de tudo isto também. Apesar do trabalho que ás vezes dava, foi bom poder partilhar com todos a experiência que por cá vivemos. Adoramos os comentários, os mimos e os elogios. Um muito obrigada a todos.
Não podemos esquecer os donos da pousada que foram uns autênticos pais para nós. Sempre preocupados connosco e com o nosso bem-estar, foram uma familia durante a estadia. Na fotografia falta a Missy, a nossa melhor amiga gata, que mal acordavamos de manhã vinha directa para o nosso quarto e o Gustavo, filho do João. Um muito obrigada também, vamos ter saudades.
EPISÓDIOS POR CONTAR
(Parte I)
Por razões óbvias de não preocuparmos os nossos familiares e amigos, resolvemos omitir alguns precalços que partilhamos agora que estamos fora de perigo.
O mais importante de todos foi na vinda da Foz do Iguaçu. Era de noite e a camioneta ia pouco cheia. Resolvemos sentarmo-nos nos bancos do fim, uma de cada lado, para podermos estar mais à vontade. Os cinco bancos à nossa frente estavam vagos. Era já meia-noite quando sentimos a camioneta parar. Sem percebermos o porquê continuamos distraídas a ouvir musica a conversar. Nisto vimos um rapaz de mais ou menos vinte anos a dirigir-se rapidamente para o banco da frente da Teresinha. Sem compreendermos o motivos, não demos muita importância. De repente, entram três policiais militares, armados e vêm na nossa direcção. Um para mim outro para a Teresinha. Pedem-nos para abrirmos as mochilas e revistam tudo. Eram soutiens, cuecas, top, enfim, tudo espalhado. Eu na brincadeira ainda comentei inocentemente com a Teresinha: "vais presa", quando digo isto ele olha para mim com um olhar que não vou esquecer, frio e mau.
Percebemos então, que algo de sério se passava. Pediram-nos os passaportes e perguntaram se vinhamos do Paraguai. Respondemos que não e imediatamente deixaram-nos em paz e dirigiram-se para o tal rapaz sentado na frente da Teresinha. Fizeram-lhe algumas perguntas que não conseguimos ouvir e o rapaz levantou-se. Aí ouvimos uma frase que não vamos esquecer: "Está quente...está com medinho está?". O rapaz estava com um olhar de pânico e foi quando o policial lhe pôs a mão dentro das calças que percebemos o porquê. Tinha uma arma, carregada e preparada para disparar a quem se atravessasse no seu caminho.
Em seguida, algemaram-no e levaram-no lá para fora juntamente com os seus pertences. E foi quando começaram a abrir a mochila que tudo fez sentido: 8 kg de cocaína. Era traficante. Com certeza que era novato, pois encontrava-se apavorado.
Era ele e nós que só pensavamos que poderia ter feito de uma de nós refém. Graças a Deus tudo não passou de um susto. Agora percebem, porque não queríamos ir de camioneta para o Rio...mas vamos de avião amanhã!
Muitos beijinhos e em breve haverão actualizações destes episódios.